Novo prejuízo e dúvidas sobre Conselho: por que as ações do GPA (PCAR3) caíram 20%?

Visão do mercado é de resultados mistos, mas analistas seguem de olho nos desdobramentos de Conselho e mudanças de participação

Reuters

Em seus dois aplicativos, o Grupo Pão de Açúcar já acumula 82% de penetração entre os clientes de suas lojas. Foto: Divulgação
Em seus dois aplicativos, o Grupo Pão de Açúcar já acumula 82% de penetração entre os clientes de suas lojas. Foto: Divulgação

Publicidade

SÃO PAULO (Reuters) – As ações do GPA (PCAR3) desabaram nesta terça-feira, perdendo quase um terço do seu valor de mercado, em meio à análise do balanço do primeiro trimestre, bem como eleição de novos integrantes para o conselho de administração do varejista de alimentos dono da rede Pão de Açúcar.

Os papéis do GPA caíram 20,21%, a R$ 3,04 cada, na quarta queda seguida, após marcar uma máxima intradia desde janeiro de 2024 no último dia 29 de abril. Mesmo com o forte ajuste negativo recente, a ação ainda acumula em 2025 uma valorização de cerca de 17%.

Na mínima, a ação chegou a R$ 2,7, em queda de 29,1%, equivalente a uma perda de R$ 544 milhões em valor de mercado.

Continua depois da publicidade


Analistas destacaram positivamente o resultado operacional da companhia, que apresentou expansão de receitas e do Ebitda ajustado consolidado, bem como melhora em margens, mas chamaram a atenção para um desempenho ainda negativo na última linha, além de fluxo de caixa negativo.


“Embora o GPA continue a melhorar a margem Ebitda ano a ano, ele continua a reportar prejuízos líquidos, além de grande queima de caixa”, afirmaram os analistas do Citi, chamando a atenção também para a alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda, que “está perto de 3 vezes novamente”.




Nos primeiros três meses do ano, o GPA teve um prejuízo líquido de R$ 93 milhões nas operações continuadas, ante uma perda de R$ 407 milhões um ano antes, enquanto o Ebitda ajustado consolidado somou R$ 409 milhões, alta de 9,9% na comparação anual, com a margem nessa linha passando de 8,1% para 8,6%.

Continua depois da publicidade


A receita bruta cresceu 4,6%, para cerca de R$5,1 bilhões, enquanto a receita líquida aumentou 3,9%, para quase R$ 4,8 bilhões. As vendas no conceito mesmas lojas, excluindo o impacto de calendário, mostraram aumento de 7,3%.


Em contrapartida, além do prejuízo, o fluxo de caixa livre operacional ajustado ficou negativo em R$817 milhões, acima do resultado negativo de R$753 milhões no mesmo período de 2024.


A alavancagem financeira pré-IFRS 16 – medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado consolidado pré-IFRS 16 dos últimos 12 meses (incluindo despesas com aluguéis) – ficou em 2,8 vezes, frente ao patamar de 3 vezes registrado um ano antes. No final de 2024, porém, esse número era de 1,6 vez.

Continua depois da publicidade


Analistas do Bank of America destacaram que um ambiente competitivo favorável e uma boa execução estão gerando sólidos ganhos operacionais. “No entanto, dívidas pesadas e contingências podem ser difíceis de superar”, ponderaram em relatório, reiterando recomendação “underperform” para as ações.


Eles também acrescentaram que os esforços para substituir o conselho do GPA parecem ter fracassado e avaliam que novos membros podem causar alguma dissonância.


A assembleia de acionistas da empresa também elegeu na véspera novos conselheiros nomeados pelo empresário Nelson Tanure — Sebastián Dario Los — e pelo investidor Rafael Ferri.

Continua depois da publicidade


Tanure, que detém cerca de 7% das ações do GPA, propôs no final de março a destituição do atual conselho do GPA e a eleição de novos membros para o colegiado, incluindo três representantes indicados pelo próprio empresário.


Porém, com a entrada das chapas apoiadas pelo investidor Rafael Ferri e pela família Coelho Diniz, dona da rede de supermercados de mesmo nome, o cenário de apoio mudou e os votos se diluíram, tornando mais improvável a eleição de todos os seus indicados.


Uma ata da assembleia divulgada pelo GPA confirmou a remoção das candidaturas de Pedro de Moraes Borba e Rodrigo Tostes Solon de Pontes pelo fundo de investimento Saint German, controlado por Tanure, enquanto Sebastián Dario Los, também indicado pelo fundo, foi eleito.

Continua depois da publicidade


À Reuters, Tanure disse que tinha um plano audacioso para o futuro do GPA, mas como a chapa proposta não teve continuidade, decidiu não seguir com este projeto “em que não acreditamos mais”. “Houve uma corrida pelas ações que não combina com o longo prazo”, disse Tanure.


Também em entrevista à Reuters, Ferri, cujo grupo elegeu dois membros no conselho, disse que chegou com uma postura “construtiva”. Ele afirmou que pretende dar mais visibilidade ao que tem sido feito na rede, e que muitos desconhecem, além de estar aberto a discutir ideias que sejam positivas para o grupo.


No final da segunda-feira, porém, o GPA divulgou que Ferri reduziu suas participações na companhia para 2,73%, incluindo derivativos. Em 16 de abril, ele havia alcançado participação de 5,86%. Ferri informou à empresa que seu objetivo com a alteração na fatia “é estritamente de investimento”.


Em teleconferência com analistas nesta terça-feira sobre o balanço, o presidente-executivo do GPA, Marcelo Pimentel, disse que a companhia espera que o novo conselho de administração da companhia ajude a empresa a se manter no caminho da recuperação de seus resultados.


“Vamos ter oportunidade de ouvir novas visões e complementariedades para nos ajudar a acelerar o processo”, acrescentou.

OSZAR »