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Dois meses depois de a DeepSeek ter pego de surpresa as gigantes da tecnologia, a China lança mais uma inteligência artificial (IA) que está impressionando usuários ao redor do mundo. O Manus, criado pela startup Butterfly Effetc, consegue executar tarefas mais complexas e com menos comandos do que o ChatGPT, Gemini ou qualquer outra IA do tipo LLM do mercado.
LLM é a sigla para Large Language Model – na tradução, “Grande Modelo de Linguagem”. Essa é a tecnologia das IAs que conseguem gerar uma linguagem para se comunicar com o usuário e dar respostas em determinado contexto.
Um dos tipos de LLM é a de textos fluídos, ou seja, aquela com quem podemos “conversar” com a sensação de que estamos sendo ouvidos. Nesse sentido, o ChatGPT foi o primeiro produto de escala de mercado com uma boa fluidez junto ao usuário, como explica o engenheiro de software Alessandro Emerich.
“Com o tempo, começou-se a perceber que o GPT ‘alucinava’ com demandas mais complexas. Como a IA não pode deixar o usuário sem resposta, ele simplesmente criava algo quando não sabia responder, mesmo que não fosse correto”, observa o especialista.
Essas falhas acenderam um alerta em quem estuda inteligência artificial. Era óbvio que faltava um ajuste nas IAs generativas, uma camada que conseguisse dar respostas de forma mais crítica, completa e confiável. E foi justamente nesse vácuo que o Manus foi pensado e desenvolvido.
“Até agora, o principal diferencial da nova IA é a sua capacidade de dar respostas a prompts mais complexos sem se perder”, complementa Emilio Simoni, especialista em cibersegurança.
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Apesar de o Manus já ter sido liberado para os usuários, mesmo quem domina o assunto ainda não conseguiu mapear todas as suas funcionalidades. Mas já se pode conhecer alguns de seus principais diferenciais. Veja a seguir.
1 – Como o Manus funciona?
Tecnicamente, o Manus é um agente de IA geral. Na prática, isso significa que ele age com mais autonomia do que outras IAs generativas, pois ele próprio planeja as ações para chegar ao seu objetivo.
Para isso, ele utiliza os agentes, que nada mais são do que uma camada adicional no chatbot. Quando o Manus recebe uma pergunta, ele a quebra em tarefas e distribui para os agentes relacionados ao tema.
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“É como se você pegasse o ChatGPT e criasse ‘filhotinhos’ dele. E, para cada filhotinho, você atribui uma tarefa específica”, diz Alessandro. “O resultado disso é uma equipe, um exército de assistentes que trabalha especificamente para atender a demanda do usuário”, compara o especialista.
Em suma, o grande “pulo do gato” do Manus foi oferecer a camada de agentes pronta e à disposição do usuário, sem que seja necessária a atuação de um técnico para customizar a IA.
2 – Interatividade
Um dos efeitos da camada de agentes é a maior interatividade com o usuário, como explica Alessandro ao citar um teste que fez com a plataforma. Ele pediu ao Manus um guia sobre como montar agentes para uso em IA que pudesse utilizar em seu notebook.
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“Ao receber a solicitação, o Manus perguntou que tarefas e que tipo de agente eu queria, qual meu nível técnico, quais as minhas preferências e que hardware eu tinha. Respondi, ele agradeceu e disse que faria a pesquisa com base nas minhas respostas. Nenhuma IA hoje faz isso”, observa o especialista.
Se há alguma dúvida sobre o comando, o Manus costuma fazer uma ou duas interações com o usuário. Logo após, faz uma lista de tarefas e começa a executá-la, mostrando em tempo real todo o passo a passo – sites que está pesquisando, edição do texto e assim por diante.
“Se eu tivesse pedido o mesmo para o ChatGPT, precisaria fazer várias perguntas para evoluir (uma de cada vez), e o resultado do trabalho seria bem mais pobre”, avalia Alessandro.
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3 – Qualidade das informações geradas
Além de mais completas, as informações geradas pelo Manus tendem a ser mais fidedignas.
“Um dos grandes problemas do ChatGPT é que ele é muito convincente na mentira”, alerta Alessandro. Já o Manus sempre cita as fontes, algo que, até pouco tempo, as outras IAs generativas não faziam.
Logicamente, isso não isenta o usuário de checar sempre as respostas, seja qual for a IA utilizada, pois nenhuma delas é infalível. A superioridade do Manus em comparação a outras tecnologias LLM está, principalmente, na estruturação das perguntas que devem ser respondidas a cada prompt recebido.
4 – Comparação com outras IAs
Além de pesquisas e criação de textos, o Manus consegue executar as mais variadas tarefas. Construção de sites, análises financeiras, avaliação de planos de negócios, agendamento de entrevistas, busca de fornecedores e preparação de planos de viagens são alguns exemplos. E tudo de forma muito mais detalhada do que as outras IAs.
Para testar, o InfoMoney fez a seguinte solicitação ao Manus e ao ChatGPT (versão gratuita):
“Crie um documento sobre os efeitos do aquecimento global na agricultura da América Latina, e quais as consequências previstas para os próximos 10 anos.”
Veja as respostas:
| ChatGPT | Manus | |
| Introdução | – Menciona resumidamente a gravidade do aquecimento global; – Cita o problema na América Latina; – Fala sobre os eventos climáticos que impactam a produção de alimentos. | – Detalha o fenômeno do aquecimento global; – Fala sobre a vulnerabilidade da América Latina; – Fala sobre a importância da agricultura para a região, citando referências; – Fala sobre alertas de autoridades climáticas para a região, citando referências; – Fala sobre o propósito do documento criado e sobre o que será abordado na continuação do texto. |
| Desenvolvimento | – Relata as causas e efeitos do aquecimento global em 4 itens; – Relata as consequências para os próximos 10 anos em 5 itens; – Oferece 4 possíveis possíveis soluções e adaptabilidade para o problema. | – Fala sobre os impactos atuais do fenômeno, citando fontes; – Traz exemplos de eventos extremos no continente (furacões, degelo dos Andes, incêndios na Amazônia, etc) com datas e fontes; – Associa o aumento da temperatura à proliferação de pragas e outros danos; – Alerta para a necessidade de estratégias de contenção do problema; – Traz projeções climáticas para o continente (com fontes); – Divide os impactos por região (América Central, Cone-Sul, Andes e Amazônia); – Traz estratégias de mitigação dos danos (manejo da água, melhoramento genético, etc) com fontes. |
| Conclusão | – Reconhece que os próximos 10 anos serão críticos para o continente (redução de alimentos e problemas sociais e econômicos); – Aconselha a adoção de práticas agrícolas sustentáveis para mitigar os impactos. – Ao final, cita as 3 referências utilizadas na pesquisa. | – Reconhece o desafio para o continente e especifica o problema em cada uma das 4 regiões citadas anteriormente; – Aborda a necessidade de superar barreiras tecnológicas para lidar com o problema; – Cita pontos positivos, como biodiversidade e capacidade de inovação para superar o problema. |
| Extensão do documento | 3 páginas | 13 páginas |
5 – Pontos fracos do Manus
Até agora, há basicamente duas desvantagens do Manus: o preço e a lentidão para executar determinadas tarefas em comparação a outras IAs generativas.
O primeiro acesso à plataforma ocorre por meio de um convite, que o usuário pode solicitar no site, no aplicativo, ou receber de alguém que já a utilizou.
Alessandro conta que, quando foi fazer o cadastro na web para pedir acesso, o site do Manus sugeriu que ele utilizasse o aplicativo da IA.
“Quando eu instalei o aplicativo no meu celular e tentei o acesso, consegui imediatamente, sem precisar entrar em fila. Pela web, sei que ainda tem espera de alguns dias”, diz o especialista.
No primeiro acesso, o usuário recebe mil “créditos” da plataforma para utilizar como quiser. A cada tarefa solicitada, o sistema irá abater valores, de acordo com a complexidade do trabalho realizado.
Em determinado momento, o Manus irá avisar que os créditos acabaram. Para continuar utilizando a IA, o usuário terá que contratar um pacote, que vem em duas versões. A mais básica custa US$ 39, com 3,9 mil créditos e execução de 2 tarefas simultâneas. A versão superior sai por US$ 199, e o usuário pode executar até 5 tarefas ao mesmo tempo.
Para se ter uma ideia do que os créditos cobrem, os testes que demonstramos acima consumiram 800 dos mil créditos gratuitos – 300 para o guia IA e 500 para os efeitos do aquecimento global.
“A forma como o Manus foi estruturado demanda muito processamento para que ele possa rodar. É por isso que ele fica caro”, diz Alessandro.
Esse volume de processamento também se reflete no tempo de resposta da IA. Seja qual for a pergunta, o processo será o mesmo: a plataforma vai criar assistentes e distribuir tarefas. Por isso, acaba não compensando usar o Manus para perguntas mais simples e diretas.
“O Manus tem condições de fazer todas as tarefas que as outras IAs fazem, inclusive as mais simples, e com mais qualidade. Se não fosse o custo da plataforma, eu a utilizaria sempre “, avalia o especialista.
Dicas de segurança para utilizar o Manus
Emilio Simoni alerta para a possibilidade de códigos maliciosos, principalmente neste momento inicial da nova IA. Segundo o especialista, quando uma nova IA no modelo LLM é lançada, os filtros iniciais para ataques não costumam ser muito bons.
“Acho que a gente vai ver algumas pessoas utilizando o Manus para gerar códigos de malwares que não sejam detectados por antivírus, ou comandos específicos que possam comprometer a máquina do usuário. Quanto melhores esses modelos são para o bem, melhores também eles são para o mal”, alerta.
Isso acontece porque a prioridade dessas IAs é justamente detectar e responder bem ao contexto. Por isso, o uso malicioso da solução acaba não sendo o foco inicial dos desenvolvedores.
Simoni observa que, como o Manus ainda tem um pequeno tempo de espera para o acesso, a possibilidade de pishings (páginas falsas) também é uma realidade.
“Imagine que uma pessoa receba um email dizendo que o seu convite foi liberado. Para isso, ela precisa acessar um link com usuário e senha – e cai em uma página falsa. Isso costuma acontecer em sites que geram ansiedade para o primeiro acesso, como jogos e outros lançamentos. E é exatamente esse o caso do Manus hoje”, alerta o especialista.