Conteúdo editorial apoiado por

Marco regulatório das bets traz segurança, mas saúde dos apostadores é preocupação

Movimentação com apostas esportivas ultrapassou a casa dos R$ 100 bi no ano passado; campanhas focam em jogo responsável, mas preocupação com saúde dos apostadores permanece

Danilo Lavieri

(Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)
(Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Publicidade

O ano de 2025 começou com uma grande transformação no setor de apostas esportivas e jogos online no Brasil. Neste dia 1° de abril, completam-se 90 dias da regulamentação, que estabeleceu diretrizes claras para a casa de apostas operar legalmente no país.

Agora, todas as empresas do segmento precisam de autorização da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF). Isso não significa que todos os problemas foram resolvidos e que todas as polêmicas foram sanadas, especialmente no âmbito da saúde de quem aposta, mas o controle está claramente maior e o Estado já pode dizer que arrecada algo com esse negócio.

A movimentação financeira do setor tem crescido exponencialmente nos últimos anos. De acordo com um estudo da Strategy& (PwC), o mercado de apostas esportivas movimentou entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões em 2023, em contraste com os R$ 5 bilhões registrados em 2018, quando a modalidade teve a permissão para atuar, mas ainda não era regulamentada como hoje.

Em 2024, último ano sem a intervenção do governo, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que o setor atingiu a marca de R$ 103 bilhões em apostas online. O país chegou a ter em torno de 3 mil casas de apostas atuando e, hoje, após as regras, esse número cai para menos de 200.

Impactos

Para Fellipe Fraga, CBO e RI da EstrelaBet, patrocinadora máster do Criciúma, a regulamentação trouxe segurança jurídica e regras bem definidas para o setor. Ele afirma que uma das principais mudanças foi a saída da “‘zona cinza” regulatória, permitindo que as operadoras atuem com regras bem estabelecidas.

“Agora, requisitos técnicos rigorosos, como a identificação facial dos apostadores, garantem mais segurança nas transações e na prevenção à lavagem de dinheiro”, explica Fraga. Além disso, a regulamentação tem impactos diretos na publicidade do setor, com regras éticas que protegem menores de idade.

Continua depois da publicidade

Outro reflexo positivo destacado por Marco Tulio, CEO da Ana Gaming, é a formalização do setor, que pode levar a um aumento na arrecadação fiscal e um impacto econômico ainda maior. “As apostas esportivas impulsionam uma cadeia ampla de fornecedores e serviços, desde patrocínios e publicidade até desenvolvimento de software, atendimento ao cliente e confecção de materiais promocionais”, diz Tulio.

Marcos Sabiá, CEO do galera.bet, aponta que a estrutura financeira e tecnológica do Brasil foi um fator essencial para o crescimento do setor. “O Brasil tem um sistema financeiro avançado, com instituições sólidas e meios de pagamento modernos como o Pix, que facilitaram o florescimento de um mercado saudável e seguro”, avalia.

Desafios Persistentes

Apesar dos avanços, ainda existem desafios significativos. A presença de casas de apostas ilegais segue como um problema que impacta não apenas os operadores regulamentados, mas também os consumidores e o governo, que deixa de arrecadar impostos.

Continua depois da publicidade

“O maior desafio para toda a cadeia está relacionado às bets ilegais. Além de operarem à margem das regras, essas plataformas frequentemente causam prejuízos aos clientes e comprometem a reputação das empresas sérias”, ressalta Fraga.

A regulamentação também impulsionou a profissionalização do setor. Feliphe Almeida, CTO da LuckBet, destaca que a exigência de melhores práticas empresariais fortalece a credibilidade do mercado.

“A principal mudança que já pode ser notada é a profissionalização do mercado, com empresas adotando práticas mais responsáveis e alinhadas às diretrizes governamentais”, afirma. A LuckBet, que opera a partir de Cuiabá, implementou medidas de autorregulação e conscientização sobre jogo responsável, visando garantir um ambiente mais seguro para os apostadores.

Continua depois da publicidade

Já a BETesporte, patrocinadora de clubes como CRB, CSA e Volta Redonda, vem apostando em campanhas para promover o jogo responsável. O CEO Vinicius Nogueira destaca a importância de conscientizar os apostadores sobre as novas regras do setor.

“Nossa nova campanha com o Zico traz o slogan ‘Craque de verdade joga com responsabilidade!’, reforçando a ideia de que apostar deve ser uma forma de entretenimento, e não um risco”, explica Nogueira.

Debate sobre saúde

Ao mesmo tempo em que o mercado gera mais arrecadação para o governo e dá mais segurança, o debate crescente é sobre a saúde dos apostadores e das pessoas no entorno deles.

Continua depois da publicidade

Já há diversos estudos e campanhas sobre a importância da conscientização de quem está no mercado, inclusive alertando que a aposta deve ser um passatempo e não um meio de investimento. O Senado discute novos projetos que limitam a propaganda, em manobra semelhante a que existe com álcool e tabagismo.

O vício para alguns tem causado problemas imediatos, como o comprometimento de renda, mas também mais complexos como a quebra do bem-estar emocional dos familiares, ansiedade, perda do emprego e até fim de casamentos.

Danilo Lavieri

Danilo Lavieri é jornalista experiente em cobertura de esportes, especialmente em bastidores e negócios do mundo do futebol. Atualmente, é colunista do UOL e comentarista do Canal UOL, com passagens por Abril, iG e Máquina do Esporte, com direito a coberturas de três Copas e outras importantes competições de futebol de clubes e seleções.

OSZAR »