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O Bitcoin voltou a subir com força nesta terça-feira (22), ultrapassando os US$ 90 mil pela primeira vez desde o início de março. A criptomoeda acumula alta de quase 22% desde a mínima registrada em abril, enquanto ações americanas e o dólar seguem em queda, o que sinaliza possível percepção do ativo como alternativa de proteção em tempos de incerteza.
Por volta das 15h57 (horário de Brasília), o bitcoin subia 5,35% cotado a US$ 91.499,53, enquanto o Ethereum avançava 8,48%, negociado a US$ 1.703,24, de acordo com dados da Binance.
Carsten Menke, pesquisador do Julius Baer, afirmou que a valorização do token digital se deve, em parte, à sua precificação contra o dólar, que atingiu novas mínimas em relação às principais moedas na segunda-feira – perto das 16h30, o dólar caía 1,36% em valor, e o ouro, tradicional ativo de proteção, cedia 1,22%.
Os movimentos ocorrem em meio ao aumento da tensão política nos Estados Unidos. O presidente Donald Trump tem pressionado o Federal Reserve por cortes imediatos nos juros e ameaçando destituir Jerome Powell do cargo de chair. Como reflexo, os investidores buscam ativos considerados mais resistentes à turbulência.
Um dos sinais mais claros desse movimento foi a entrada líquida de US$ 381,4 milhões em ETFs de Bitcoin à vista nos EUA na segunda-feira (21) — o maior fluxo desde janeiro e o quarto dia de aportes em cinco sessões. Para analistas, o número mostra o avanço da demanda institucional por Bitcoin como reserva de valor.
Além disso, o Bitcoin vem se descolando do desempenho das bolsas americanas. Tradicionalmente, em momentos de crise, o ativo costuma acompanhar o mercado acionário. Mas, nos últimos 30 dias, a correlação entre o BTC e o S&P 500 caiu para 0,65 — abaixo da média histórica próxima de 1,0 em períodos de forte estresse, segundo a Compass Point.
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O chefe de Global Market Insights da Hashde, Gerry O’Shea, apontou que o desempenho do bitcoin sugere que mais investidores estão começando a vê-lo como uma forma de “ouro digital”, atuando como um ativo de proteção em períodos de incerteza. No entanto, Menke observa que, apesar de ser frequentemente apresentado como proteção contra a inflação, o bitcoin tem subido e caído de forma sincronizada com as ações das grandes empresas de tecnologia nas últimas sessões.
Para o Standard Chartered, “a criptomoeda serve como uma proteção contra riscos ao sistema financeiro existente, devido ao seu ambiente descentralizado”, projetando que o bitcoin pode atingir a marca de US$ 200 mil até o final de 2025. Christopher Lewis, da FXEmpire, acrescenta que, embora o bitcoin tenha se mantido relativamente bem diante do cenário global, ele agora se encontra “em uma área de alta probabilidade para uma correção”.
Do ponto de vista técnico, o Bitcoin está superando uma região considerada difícil de romper, entre US$ 88 mil e US$ 89 mil. Essa faixa reúne três barreiras: a média de preço dos últimos 200 dias, um indicador chamado “nuvem de Ichimoku” e a máxima de março. Para a analista Katie Stockton, da Fairlead Strategies, deixar essa região para trás pode abrir caminho para o próximo alvo: US$ 95.900.
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Consolidação
Embora o avanço recente esteja ocorrendo com volumes menores de negociação, analistas destacam a força do mercado como um todo. O relatório mais recente da gestora 21Shares aponta que o Bitcoin está em um momento de consolidação — ou seja, de reorganização de forças — e não em um possível topo de ciclo, como ocorreu no fim de 2021.
Segundo a 21Shares, investidores de longo prazo voltaram a comprar Bitcoin após a correção de março, e a liquidez global (a quantidade de dinheiro circulando nos mercados) começou a subir novamente. Isso pode criar um ambiente mais favorável para uma nova onda de valorização.
A gestora também destaca que, diferentemente de outros ciclos, o mercado tem reagido de forma mais madura. Mesmo após quedas fortes no início do ano, o preço do Bitcoin se manteve em patamares mais altos do que antes das eleições nos EUA, o que mostra resiliência. Não houve grandes ondas de pânico ou vendas em massa, como no passado.
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Outro fator que reforça a tese de recuperação é a proximidade do Bitcoin de bater um novo recorde de valorização frente ao índice Nasdaq, que reúne as maiores empresas de tecnologia dos EUA. A relação entre os dois está em 4,96, perto do recorde de 5,08, atingido quando o BTC chegou a US$ 109 mil em janeiro.