Cardeais do Brasil citam pobreza, migração e clima como pautas-chave de Leão XIV

Em coletiva no Vaticano, líderes da Igreja no Brasil destacam trajetória do novo papa junto aos pobres, sua atuação na América Latina e a defesa de pautas sociais, mas com nuances próprias em relação a Francisco

Paulo Barros

O recém-eleito Papa Leão XIV, Cardeal Robert Prevost dos Estados Unidos, aparece na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 8 de maio de 2025. REUTERS/Yara Nardi TPX IMAGES OF THE DAY.
O recém-eleito Papa Leão XIV, Cardeal Robert Prevost dos Estados Unidos, aparece na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 8 de maio de 2025. REUTERS/Yara Nardi TPX IMAGES OF THE DAY.

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ROMA – Os cardeais brasileiros que participaram do conclave que elegeu o Papa Leão XIV destacaram nesta sexta-feira (9), em coletiva no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, o perfil social do novo pontífice e sua sintonia com a agenda que marcou o pontificado de Francisco. Segundo os religiosos, a trajetória pastoral do novo papa no Peru e sua atuação junto a comunidades vulneráveis indicam que temas como pobreza, migração, povos originários e meio ambiente devem permanecer no centro das atenções da Santa Sé.

“Não esquecermos que a diocese dele era uma diocese bastante pobre e ele se dedicou muito aos pobres”, afirmou Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus. Para ele, “essas questões mais macros e sociais […] certamente não vão se eximir desse tema todo que tem a ver com os pobres, com as periferias, com os povos originários, com a questão do meio ambiente, onde a terra tá sofrendo, onde as pessoas estão sofrendo”.

Os cardeais reforçaram que, apesar da nacionalidade americana, Leão XIV tem profunda ligação com a América Latina. “Nós temos um papa que era bispo latino-americano”, disse Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador. “Sua atuação episcopal foi no Peru, foi na América Latina, é alguém que traz no coração a própria América Latina.” “Tem todo um aspecto também de migração, de experiência”, e “é um tempo de esperança”, ressaltou Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro.

Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, alertou para simplificações sobre a origem do novo papa. “Ele nasceu nos Estados Unidos, mas nunca foi bispo nos Estados Unidos. […] Ele tem a nacionalidade peruana como americana. Então […] é mais peruano que americano, né? E é um homem do mundo, cidadão do mundo.”

Os cardeais também relacionaram a escolha do nome papal à tradição da doutrina social da Igreja. “Leão X é um marco na doutrina […] social da Igreja”, afirmou Dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Eu creio que aqui nós temos uma relação preciosa que indica por onde poderá ir este pontificado.”

Ao longo da coletiva, também foi destacado o perfil institucional de Leão XIV, que até o conclave ocupava o cargo de prefeito do dicastério para os bispos. “Ele é um homem de muita escuta”, disse Steiner. “Nós temos grandes pessoas, mulheres e homens no Vaticano que nos ajudam a refletir toda essa questão da paz, das relações com os países, a questão da política, a questão da justiça.”

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Dom Paulo César, arcebispo de Brasília, descreveu o papa como “um homem que tem uma espiritualidade muito sólida”, com “uma profunda formação intelectual” e “uma profunda experiência universal”. E concluiu: “Ele já mostrou no início do pontificado que ele não é Francisco, ele é Leão XIV […] Vai ter a continuidade, mas também a descontinuidade.”

Paulo Barros

Editor de Hard News e correspondente internacional baseado em Lisboa

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