O conclave mais longo da história durou quase 3 anos e mudou as eleições papais

Impasse político entre cardeais levou à eleição de um não-cardeal e à criação de regras que moldam o processo até hoje

Marina Verenicz

Cardeais da Igreja Católica participam do conclave de eleição na Capela Sistina em 18 de abril de 2005, no Vaticano, Cidade do Vaticano (Foto por Arturo Mari - Vatican Pool/Getty Images)
Cardeais da Igreja Católica participam do conclave de eleição na Capela Sistina em 18 de abril de 2005, no Vaticano, Cidade do Vaticano (Foto por Arturo Mari - Vatican Pool/Getty Images)

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O conclave de 1268 a 1271, realizado na cidade italiana de Viterbo, entrou para a história como o mais longo da Igreja Católica. Foram 34 meses — ou 1.006 dias — entre a morte do Papa Clemente IV e a escolha do sucessor, um período marcado por disputas políticas, pressões externas e mudanças estruturais duradouras no processo de eleição papal.

O impasse teve como pano de fundo o acirramento entre as facções francesa e italiana dentro do colégio de cardeais. Nenhum dos grupos conseguia reunir a maioria necessária para eleger o novo pontífice. A situação se agravou a tal ponto que os moradores de Viterbo, revoltados com a demora, chegaram a retirar o telhado do local onde os cardeais estavam reunidos, na tentativa de apressar a decisão — um gesto simbólico de pressão e frustração popular.

A solução veio apenas em setembro de 1271, quando, após mais de dois anos e meio de deliberações infrutíferas, foi formado um comitê com seis cardeais. Eles decidiram eleger um nome de fora do colégio: Teobaldo Visconti, então um arcebispo que participava da Nona Cruzada em Acre, na Palestina. Visconti só chegaria a Roma e assumiria oficialmente como Papa Gregório X no ano seguinte, em 1272.

O conclave mais longo da história não só encerrou um vácuo de poder na Igreja, como também marcou um ponto de inflexão nas regras do processo eleitoral papal. A demora e o caos gerado levaram à adoção de normas mais rígidas, visando impedir futuras paralisações. Entre as mudanças implementadas estavam o isolamento dos cardeais durante a votação e restrições severas à comunicação com o mundo exterior — medidas que perduram até hoje.

A influência política externa também teve papel relevante. Governantes como o rei francês Felipe III pressionaram os cardeais por uma decisão, contribuindo para o clamor por reformas. Gregório X, já como papa, convocaria o Concílio de Lyon em 1274, onde consolidaria muitas das novas regras para os conclaves.

A crise de 1268 a 1271 transformou para sempre o modelo de eleição papal. Do caos emergiu um sistema mais controlado, reservado e eficiente, moldando o conclave moderno como um instrumento de estabilidade institucional da Igreja. A eleição de Gregório X, assim, encerrou não apenas o conclave mais prolongado da história, mas também inaugurou uma nova era na governança católica.

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